4 de out. de 2012

O poder de uma cor

Dos longos vermelhos aos scarpins de tachas, Valentino chega ao Brasil trazendo o melhor da história da marca

Por Priscilla Sobral e João Fantini


Valentino Garavani em foto no New York Ballet, para o qual ele criou figurinos recentemente (Reprodução)
Há muitas perguntas na lista de questões ainda não respondias pela humanidade e aqui nem estamos falando de indagações ao estilo ovo e galinha ou vida extraterrestre. Longe de nós querer opinar sobre a vida das aves ou de marcianos. Falamos de algo tão mais próximo de nós quanto mais complexo. Afinal, o que querem as mulheres?

Não foram poucos os que tentaram dar uma explicação, seja ela pura lógica ou completamente emocional. De médicos a psicólogos, de músicos a pintores e com muita propriedade os escritores, não foram poucos os que tentaram em vão elencar os desejos femininos. Dizemos em vão pois acreditamos que nenhum deles obteve tanto sucesso quanto um estilista ao dizer: "Eu sei o que as mulheres querem. Eles querem ser bonitas.".


O dono da célebre frase atende pelo nome de Valentino Garavani ou simplesmente Valentino. Italiano da Lombardia, o então jovem criador associou-se ao pai, ainda nos anos 60, para fundar a maison que viria a se tornar um dos conglomerados de moda mais relevantes do século 20. Do endereço da Via Condotti, em Roma, para a estreia nas passarelas de Florença, então capital italiana da moda, foram necessários dois anos e um amor daqueles para a vida toda. Em 1962, Valentino desfilava sua primeira coleção com Giancarlo Giametti como parceiro de negócios e o sucesso de sua silhueta delicadamente elegante veio na forma de clientes ilustres, do porte de Elizabeth Taylor e Audrey Hepburn.
Julia Roberts elegeu um modelo Valentino em preto e branco para receber o Oscar de Melhor Atriz, em 2001 (Reprodução)
Foi graças a ninguém menos que Jacqueline Kennedy, contudo, que Valentino se tornou nome no topo do ranking da sofisticação. A história é das mais curiosas: encantada com um conjunto usado por Gloria Schiff, irmã gêmea da então editora da Vogue America Consuelo Crespi, Mrs. Kennedy soube que o nome que assinava a etiqueta, estava em Nova York para um baile beneficente. Para quem já imaginou um encontro da dupla na festa, pedimos um minuto mais: Jacqueline não esteve no Hotel Waldorf-Astoria naquela noite, mas Valentino não tardou a enviar ao apartamento dela na Quinta Avenida uma modelo, seu staff e as principais peças de sua coleção. Algumas horas depois estavam encomendados seis modelos de alta-costura, todos em preto e branco, a serem usados no ano após o assassinato do presidente John F. Kennedy


Costanza Pascolato com seus scarpins da linha Rockstud, modelo infinitamente copiado por marcas do mundo inteiro (Reprodução)
Do apartamento da então primeira-dama, não demorou para Valentino cair nas graças de Diana Vreeland e ver seus vestidos ganharem as páginas da Vogue. Não era no contraste P&B, porém, que Mr. Garavani marcaria sua trajetória na moda: o espírito de Valentino era vermelho vivo, vibrante, aberto, destemido. Era "Vermelho Valentino". Statement de sensualidade, garantia de sofisticação, a cor passeou por décadas de mudanças sem perder nenhuma nuance e muito menos a capacidade inexplicável de elevar a auto-estima do eleitorado feminino e os olhares masculinos no tempo que se leva para deixar cair sobre o corpo um longo "Vermelho Valentino"

Se falta explicação plausível para nossos fascínio pelo VV, para o sucesso da maison italiana há inúmeros. Um deles, talvez o mais importante, é ter a capacidade que poucas marcas têm de se reinventar, de se adaptar a novas realidades, de antever os desejos daquelas mulheres que parecem sempre já saber o que querem. Provas disso não faltam: atualmente, são 1250 pontos de venda espalhados por 70 países, sendo 66 operados diretamente pelo headquarter italiano. E, em breve, muito em breve, para falar a verdade, serão 1251 e 67. Para frisson das brasileiras, abre as portas nessa sexta-feira (dia 5), nos domínios do Shopping Cidade Jardim, a primeira Valentino instalada em solo tupiniquim.
Una nuova era
Maria Grazia Chiuri e Pier Paolo Piccioli assumiram o comando da marca em 2008 e fizeram um desfile de Primavera Verão 2013 muito elogiado (David Sims)


A Valentino, uma das mais célebres marcas do Velho Continente, chega ao Brasil no auge de sua remodelação. Aposentado desde 2008, o octogenário estilista passou para as mãos de Pier Paolo Piccioli e Maria Grazia Chiuri a tarefa de comandar a marca que fora sua durante quase cinco décadas. Se a expectativa é inimiga da perfeição, o duo não foi temeroso ao que esperavam clientes e, ainda mais, toda uma imprensa ansiosa. Na marca desde 1999, quando foram convidados pelo próprio Valentino a criar uma linha de acessórios inspirada pela coleção de Alta-Costura, a dupla formada pelo European Institute of Design, em Roma, já tinha feito sucesso na direção criativa da Fendi. Um passo além e o talento deles pode ser admirado a cada nova semana de moda. 


Desfile de Primavera Verão 2013 da Valentino. Clássicos vestidos vermelhos apareceram em modelos com mangas longas e golas fechadas (Márcio Madeira)
Na última delas, para a temporada Verão 2013 desfilada em Paris, Piccioli e Chiuri provaram que entendem como ninguém qual a alma da label que pilotam. Em uma passarela com iluminação vinda por baixo, modelos com maquiagem toda em tons de nude e cabelos presos em coques despretensiosos desfilaram lindos vestidos-combinação em renda e camisas com golas Peter Pan fechadas até o pescoço que faziam contraponto a saias com recortes e fendas. Quase toda em preto e branco, combinação hit da estação, a coleção não deixou de fora o "Vermelho Valentino": ele agora aparece em longos fluidos, de mangas longas, mas tão sofisticadamente sexy como deve ser qualquer Valentino.

Dada a discrepância de estações entre os hemisférios Norte e Sul (obrigada, natureza!) a linha que estará nas araras por aqui não é a desfilada em Paris recentemente e sim o Outono-Inverno 2012.  Expostas nas quatro luxuosas salas projetadas e interligadas pelo mundialmente famoso David Chepperfield, aparecem casacos com volumes clean e saias para serem usadas sobre calças. Em lã fria, jacquard, couro ou chifon, as cores obedecem ao padrão da marca e passeiam pela cartela dos brancos e nudes chegando ao preto – na Valentino, a linha Noir é dedicada somente às peças nesse tom. 


Além das passarelas e das novas lojas brasileiras - São Paulo terá uma Red Valentino, segunda marca do grupo, também no Cidade Jardim, enquanto o Rio de Janeiro recebe ambas as grifes até o fim de 2012 - o trabalho de Valentino e de seus substitutos ganha também uma exposição para chamar de sua. Em 29 de novembro, a Somerset House, em Londres, inaugura a mostra Valentino: Master of Couture Exhibition. Dividida em três setores, a exibição em cartaz até março do próximo ano pretende fazer uma retrospectiva da carreira do estilista e da trajetória de sua marca. O público inicia a visita admirando uma série de fotografias tiradas ao longo da vida de Valentino. Em seguida, os visitantes assumem a passarela, por onde caminham para ver 130 modelos de alta-costura expostos. Finalmente, uma série de vídeos nos convida a adentrar o atelier e demonstra o primoroso trabalho por trás da criação do vestido de noiva da princesa Marie Chantal, da Grécia.
Tapume na loja da Valentino no Shopping Cidade Jardim. O mall paulistano será o primeiro endereço brasileiro da marca italiana (Reprodução)
Dos detalhes artesanais da costura de um vestido aos tapetes vermelhos e festas mais badaladas de Hollywood - não poderíamos deixar de citar aqui a curiosidade em torno do vestido de noiva de Anne Hathaway, recém-casada e cujo modelito foi criado pelo próprio estilista, mesmo em fase pós-aposentadoria - vestir Valentino é um statement de poder há décadas. Seja no "seu" vermelho ou em preto e branco, em longos ou curtos ou mesmo nas inconfundíveis e infinamente copiados sapatos da linha Rock Stud. Entre as fãs das mais delicadas flores e das mais ousadas tachas, Garavani é unanimidade fashion. 

Ps: Certo dia, Valentino perguntou "Espero que as pessoas digam 'Valentino, ele fez algo para a moda, não é'? ". Perdoe a nossa ousadia, mas agora somos nós a responder: fez muito pela moda. Obrigada.

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