11 de out. de 2012

Democracia em vidrinhos

Criados e copiados à exaustão, os esmaltes se firmam como acessório indispensável

Na antiguidade, o esmalte vermelho era símbolo da realeza. Atualmente, é uma das cores mais populares entre as mulheres (Reprodução)
Elas podem viver na cosmopolita Tóquio ou do outro lado do globo, em algum lugar perdido no sul dos Estados Unidos. No Deserto do Saara, na Cordilheira dos Andes, na costa francesa ou nos alpes suiços. Do Oiapoque ao Chuí, mulheres ao redor do mundo compartilham um interesse em comum e não estamos falando de família, trabalho, comédias românticas ou sapatos. A questão aqui é aquela batizada pela ala masculina com os mais diversos e nem sempre agradáveis nomes. Papo de salão ou assunto de mulherzinha, não importa, os esmaltes são daqueles tópicos semanais e tão essenciais nas agendas da mulherada quanto o futebol para os homens. 

Futilidade necessária (com o perdão do paradoxo), aquelas dezenas de vidrinhos coloridos expostos no salão cativam os olhares femininos como só Corinthians, Palmeiras e companhia fazem com o sexo oposto. A vantagem do tempo, porém, está ao lado delas: acredita-se que desde o Egito Antigo, pode colocar aí a data de 3500 a.C, as mulheres já coloriam as unhas com henna. Já no Império Romano, as garras ganhavam polimento como forma de valorizá-las e na China mantê-las compridas era sinal de nobreza. Só para efeito de comparação, o futebol como o conhecemos atualmente surgiu somente no século 19.
O esmalte Jade, hit da Chanel. Ele foi lançado ao preço de 16 libras, ele chegou a ser comprado no eBay por 84 libras, cerca de 240 reais (Reprodução)

Nessa época, as unhas já haviam conquistado mais apetrechos para mima-las. Em 1830, aparecem os primeiros instrumentos próprios para remover as cutículas, mas só seis décadas mais tarde é que abrem as portas os espaços dedicados somente às manicures. Até os anos 20, contudo, os esmaltes não eram exatamente apropriados para o uso estético e a alternativa era recorrer a vernizes desenvolvidos pela indústria automotiva. É da fábrica norte-americana Max Factor o feito: em 1927, ela lançou o primeiro esmalte para unhas no formato vidrinho e pincel. Fãs da novidade, celebs do nível Rita Hayworth e Gloria Swanson colorem as suas e daí é fácil prever o que aconteceu. 
Drew Barrymore com o esmalte Jade, da Chanel, queridinho das modernas em 2010 (Reprodução)
Das telas do cinema, foi dada a largada para o crescimento de uma indústria que hoje movimenta milhões de dólares anualmente.  Das marcas queridinhas atualmente, a Revlon foi a precursora, lançando a tendência de colorir unhas e lábios com a mesma nuance. Símbolo de elegância no século passado, o estilo "combinadinho" não prevaleceu por muito tempo. Era de se esperar, já que a dona moda nunca foi muito dada a longos amores. Na era "um lançamento por semana", segunda pode ser "Garota Verão", na quarta "Jade", na sexta "Esconde Esconde" e no domingo "Mauve Urban".

Unhas pra que te quero


Esmaltes da linha Gastronomia, da Risqué, que aposta em tons pastéis, do laranja ao azul (Reprodução)
Para os poucos familiarizados com o mundo das lixas e alicates, os curiosos nomes batizam esmaltes populares nos cabeleireiros país afora. O verde Jade que o diga. Desfilado pela Chanel na temporada Outono/Inverno 2010, ele sumiu das prateleiras antes mesmo de chegar ao Brasil. Tornou-se item de colecionador, com direito à leilão no eBay e tudo mais. Antes dele, dois outros lançamentos da maison francesa foram elevados a categoria hit: em 2008, fez sucesso em mãos célebres o azul metálico Blue Satin e um ano antes foi a vez do Black Satin. A dupla, contudo, não causou nem metade do frenesi provocado pelas unhas verdes desfiladas por famosas como Drew Barrymore e Rihanna
Linha As Super Cores, da Colorama, que traz tons fortes e vibrantes, como amarelo e pink (Reprodução)
Ao preço médio de 92 reais, um esmalte criado por uma label do porte da Chanel ainda é o item mais acessível em meio a uma infinidade de acessórios cujos preços atingem facilmente a casa dos cinco dígitos. Ainda acha muito dinheiro por um esmalte? Pois se copiar é motivo de vergonha no quesito roupas e sapatos, no mundo dos cosméticos a disputa pela cópia perfeita e barata é das mais acirradas. E se indústria química não é capaz de reproduzir o tom exato, a criatividade feminina dá conta do recado. Dá-lhe misturinhas de um, dois, três tons para ter nas mãos o efeito "unhas de passarela".

Quando a cor descacar ou o tom enjoar, algumas gotas de acetona resolvem o problema e as mãos estão novamente prontas para receber a tendência da temporada ou aquela cor clássica. Se a temporada em questão for o Verão 2013, pode apostar sem erro na tradicional francesinha. Após desfiles de combinações ousadas, a Chanel colocou nas unhas de seu último desfile a combinação pontas brancas e comprimento nude.
Esmaltes da linha Cores do Oceano, novidade da Impala, apostam nos tons claros, como laranja, nude e azul-bebê (Reprodução)
Ponto para as românticas também nas candy colors, aqueles tons claros que vão do azul-bebê ao laranja cremoso. Tendência nas roupas, eles ganham as unhas em versões cremosas. Para quem tem aversão aos amarelinhos da vida, outra tendência da temporada promete chegar às unhas. Trata-se dos tons neon, do verde ao pink, sozinhos ou combinados à la inglesinha. Traduzindo: é a versão multicolorida da francesinha. 

Nomes complicados à parte, a verdade é que toda mulher pintou as unhas ao menos uma vez na vida e, grande parte, tornou a experiência um hábito, um vício, uma paixão. Afinal, por três reais, uma dose de paciência e um muito de habilidade, pode-se sair por aí de vermelho-femme-fatale a preto-roqueira-rebelde. Tudo ao gosto da freguesa. 

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