Marcas de luxo italianas encabeçam projeto para restaurar monumentos históricos no País
Por Priscilla Sobral e João Fantini
Mesmo durante a reforma patrocinada pela Tod´s, o Coliseu deve se manter aberto a visitação (Reprodução) |
Arte e moda andam lado a lado. Desculpe-nos pelo clichê, mas, como todas as frases escritas e repetidas a exaustão, ela tem seu fundo de verdade quase universal. E o quase, nesse caso, aplica-se a perfeição a um país que se tornou exceção tanto no quesito museus como na qualidade e quantidade de lojas enfileiradas rua acima. Benvenuti in Italia.
Terra fértil dos gênios artísticos desde a antiguidade, a "bota" reúne em seu diminuto território patrimônios da humanidade como o Coliseu, a Torre de Pisa, a Catedral de Florença e o Duomo de Milão. No total, são 47 deles reconhecidos pela Unesco, o maior número em um único País. Joias da arquitetura nacional, eles inquestionavelmente inspiraram o estilo das mais importantes casas de moda mundiais. Para iniciar, listemos Gucci, Salvatore Ferragamo, Versace, Dolce & Gabbana, Prada, Fendi e Tod´s.
A reforma da Fontana Di Trevi, em Roma, será supervisionada artisticamente pelo diretor criativo da Fendi, Karl Lagerfel (Reprodução) |
Para as duas últimas, contudo, a coisa toda vai além do mérito inspiracional. No início deste ano, ambas as grifes anunciaram o patrocínio da restauração de símbolos históricos italianos. A Tod´s ficou responsável pelo Coliseu, enquanto a Fendi escolheu a Fontana Di Trevi, em uma iniciativa que batizou de "Fendi For Fountains".
Eternizada no filme "La Dolce Vita", de Federico Fellini, no qual a atriz sueca Anita Ekberg toma um banho na fonte, a Fontana Di Trevi foi criada por Nicola Salvi e tem sua construção datada de 1732. Destino de milhões de turistas todos os anos, a construção passa por problemas estruturais, especialmente devido a falta de recursos do governo para investimentos: sua última restauração aconteceu há 20 anos e em 2012 partes da estrutura da fonte caíram.
A Bulgari patrocinou a reforma da Ponte dos Suspiros, em Veneza, e durante dois anos exibiu um outdoor no local (Reprodução) |
Em contrapartida, a label terá a Fontana Di Trevi como cenário do do desfile que comemora seus 90 anos, além de uma placa de agradecimento instalada no local por três anos e espaços publicitários nos tapumes usados durante o restauro.
A Tod´s, por sua vez, será a responsável pela maior reforma de monumentos históricos italianos financiada pela iniciativa privada. Serão cerca de R$ 57 milhões de reais investidos ao longo de dois anos e meio na reforma do Coliseu. Datada de 80 A. C, a arena tem sua estrutura afetada pela poluição e por uma linha de metrô que circula nas proximidades. "Um monumento que representa a Itália no mundo precisa ser restaurado e uma empresa que representa o produto italiano internacionalmente diz que "se você precisa de nós, estamos aqui", disse Diego Della Valle, fundador da marca.
A Diesel investirá cerca de 5,5 milhões de euros para restaurar a Ponte Rialto, em Veneza (Reprodução) |
Assim como na Fontana, o Coliseu deve ficar aberto para visitação durante todo o período de reforma e não receberá qualquer tipo de propaganda relativa a Tod´s quando pronto. "Não colocaria sapatos Tod no Coliseu", disse Della Valle. Porém, uma parte relativa à venda de ingressos para a entrada no espaço será explorada pela sua patrocinadora.
Investimento polêmico
A ideia de unir o "útil ao agradável", contudo, não surgiu assim tão recentemente e seu caminho não foi sempre fácil. No fim de 2011, a Bvlgari entregou a versão restaurada da Ponte dos Suspiros, a mais famosa de Veneza. Durante os dois anos, a joalheria - que investiu 2,8 milhões de euros na restauração - cobriu parte da estrutura em reforma com um enorme outdoor de propaganda. Criticada por violar o que é considerado patrimônio da humanidade, a Bvlgari argumentou que nem o governo e nem o povo da cidade teriam condições de assumir os custos da obra. O risco, então, seria de ver a ponte se deteriorar sobre o canal.
Construída em 1732, a Fontana Di Trevi foi eternizada em cena do filme La Dolce Vita, de Federico Fellini (Reprodução) |
De todos os milhões investidos, com ou sem propaganda, a lição que fica para os países que observam de fora é uma só: para que se mantenha a glamurosa aura em torno das marcas mais cobiçadas do planeta, não basta apenas investir em campanhas, modelos e produção artesanal. Quem investe em itens que trazem em suas etiquetas cifras milionárias saiu da bolha e não espera das grifes nada diferente de investimentos que tragam um retorno que vá além da herança fashion. Brasil, fica a dica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário